Por Paulo Vendelino Kons*
Incansável estudioso da realidade brusquense e regional, Ayres Gevaerd tem perenizada sua atuação com a implementação do Museu e Arquivo Histórico do Vale do Itajaí Mirim, a nossa Casa de Brusque. Sua figura humana e sua visão historiográfica marcam a trajetória de Brusque e da região. Teve ainda singular atuação em incontáveis realizações no campo social, desportivo, cultural, empresarial e político não partidário (foi convidado a ser candidato único na eleição do “Prefeito do Centenário de Brusque”). Infelizmente o significado histórico e social do importante legado deixado por Gevaerd ainda não é suficientemente reconhecido.
Filho de Carolina Rosa e Evilásio Gevaerd, Ayres nasceu em 9 de março do ano 'da Graça do Senhor' de 1912. Católico, de seu fiel matrimônio com Evelina Ana Nieburh nasceram seis filhos. Após servir servir o Exército, tornou-se reservista em 1929. Ingressou no comércio bem cedo, como oficial de relojoaria, ao lado de seu pai, que possuía a empresa Evilásio Gevaerd, que foi sucedida por Ayres Gevaerd & Cia.
Falecido em 8 de dezembro de 1992, Ayres Gevaerd participou de incontáveis iniciativas beneméritas, entre as quais citamos sua atuação marcante junto ao Clube Esportivo Paysandu, desde 1928. No ano seguinte, sócio fundador da Liga Brusquense de Futebol. Ator do Grupo Dramático "Horácio Nunes", atuando em diversas peças, nos anos de 1932 a 1936. Em 1934 passou a integrar a Sociedade de Caça e Tiro Ipiranga.
Membro fundador do Clube Filatélico Brusquense, em 1935. No ano seguinte, fundou a "Caixa Escolar" do Grupo Escolar Feliciano Pires. Atuou também junto ao tradicional rival do Paysandu, como secretário do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Carlos Renaux, em 1942, sendo que no mesmo ano integrou o grupo dos fundadores da Sociedade Musical Concórdia. No ano em que a segunda Guerra Mundial se findava na Europa e na Ásia, foi nomeado representante, em Brusque, da Liga Esportiva do Vale do Itajaí. Do Rotary Club de Brusque foi membro fundador em 1946, tendo organizado seu primeiro boletim oficial e ocupado diversos cargos, inclusive a presidência. Designado membro da comissão organizadora da seção Brusque da Enciclopédia de Santa Catarina, em 1954. A hoje pujante Associação Empresarial de Brusque (ACIBr) teve em Ayres Gevaerd um dos fundadores da então Associação Comercial de Brusque, no ano de 1956. Um dos fundadores da Liga Desportiva Brusquense, em 1959. Após constituir-se no principal articulador, organizador e promotor dos festejos alusivos à celebração do primeiro centenário de instalação do núcleo colonial Itajahy - que originou a freguesia (paróquia) e município de São Luiz Gonzaga, Brusque desde 17 de janeiro de 1890 -, integrou o grupo dos fundadores do Ginásio Honório Miranda, em 1961, vindo a ocupar os cargos de diretor, vice-presidente e membro do Conselho Consultivo em várias gestões. Do mais antigo clube de caça e tiro em funcionamento do Brasil, foi eleito presidente da Comissão de Festas do Centenário do Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque, ex-Schützenverein, em 1965. No mesmo ano, eleito integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina - IHGSC. Além de presidente de honra do 33º. Grupo Escoteiro Brusque - GEB, teve destacada participação na Associação Artístico Cultural de Brusque (ASSAC), na Sociedade Esportiva Bandeirante, na Associação Brasileira de Filatelia Temática, no Conselho Municipal de Cultura e na Comissão Municipal de Turismo, dentre outras incontáveis participações e realizações. Foi convidado a integrar a Academia Catarinense de Letras (ACL), tendo declinado do convite.
Ao contrário dos adeptos do marxismo cultural - Marx escreveu nas suas Teses sobre Feuerbach, de 1846, que os problemas teóricos encontravam solução na prática, o que é revelado nas ações dos seus seguidores, que invariavelmente querem no poder instituir um reino da verdade, no qual a discussão desaparece e nada além da ideologia é ensinado nas escolas, universidades, meios de comunicação, tribunais, em toda parte, sendo a História uma das principais vítimas - que buscam relegar a atuação de um Ayres Gevaerd e seus discípulos como sendo a "velha história", por quem ninguém mais se interessa; de forma intensa, Ayres deixava os "fatos falarem", sua capacidade de ressaltar o traço humano nos episódios históricos é marcante.
Sua visão de que a história, os valores e princípios que constituem uma comunidade em muito transcendem os interesses de um grupo político, de um governo, foi decisiva para a organização dos festejos do “Centenário de Brusque”, com a constituição da Sociedade Amigos de Brusque-SAB, em 4 de agosto de 1953, congregando as principais lideranças de Brusque: no campo religioso o monsenhor Afonso Niehues (posteriormente Arcebispo Metropolitano), o padre Raulino Reitz (como cientista, recebeu o Prêmio GLOBAL 500 da ONU, conferido aos ambientalistas mais destacados do mundo), empresariais como o Dr. Guilherme Renaux (um dos principais líderes da Confederação Nacional da Indústria) e seu filho Ingo, Horst Schloesser (talvez o mais próximo colaborador de Ayres), Cyro Gevaerd, Carlos Moritz, Antônio Heil (Neco), Mário Olinger e Anibal Diegoli, e culturais, como o maestro Aldo Krieger. Assim, para a fundação da SAB, compareceram no Salão do Tribunal do Júri do Fórum da Justiça estadual da Comarca de Brusque, nos altos do prédio da Prefeitura, Padre Luiz Gonzaga Steiner, Arnoldo Bauer Schaefer, Egon Geraldo Tietzmann, Oscar Gustavo Krieger, Tasso Rodriguez da Cruz, Otto Niebuhr, lngo Arlindo Renaux, Luiz Strecker, Érico Krieger, Alfredo Koehler, Carlos Moritz, Aldo Krieger, José Vieira Corte, Euvaldo Schaefer, Adolfo Walendowsky, Lauro Mueller, Padre Eloy Dorvalino Koch-SCJ, Roberto Hartke, Horst Schloesser, Rodolfo Victor Tietzmann, Remaclo Fischer, Bernardo Starck, Walmir Diegoli, Armando Euclides Polli, Arno Ristow, Monsenhor Afonso Niehues, Padre Raulino Reitz, Dr. Belizário N. Ramos, Antonio Teixeira Dias, Antonio Heil, Anibal Diegoli, Arthur Appel, Erico Appel, Guilherme Renaux, José Boiteux Piazza, Cyro Gevaerd, Mário Olinger, Jorge L. Malty, Guilherme G. Niebuhr, Ayres Gevaerd, Axel Krieger, André Brunneiser, João Antonio Schaefer – Dr. Nica, o Rotary Club de Brusque e a Sociedade Musical Concórdia.
Após a celebração invulgar do primeiro Centenário de Brusque, o lançamento da pedra fundamental da CASA DE BRUSQUE, em 04 de agosto de 1968. Ao lado de Ayres Gevaerd perfilaram-se o Governador Ivo Silveira, o Arcebispo Metropolitano Dom Afonso Niehues, o Prefeito Antônio Heil, o cientista Cônego Raulino Reitz, o industrial Guilherme Renaux e inúmeras outras pessoas. A inauguração da Casa de Brusque, foi realizada em 8 de agosto de 1971. Na comemoração dos 20 anos da Casa de Brusque, Ayres foi homenageado em vida pelo Poder Público local, com a realização de Sessão Solene da Câmara Municipal em 08 de agosto de 1991, nas dependências da Casa de Enxaimel, construída na segunda metade da década de 1980, em frente à Casa de Brusque. Na oportunidade, a Câmara Municipal outorgou a Ayres Gevaerd (representado por Dom Afonso Niehues) a Comenda do Mérito Municipal.
Há dois anos lembrei e, mesmo, concitei entidades da sociedade civil e o poder público local para organizarem a comemoração do Centenário de Nascimento de Ayres Gevaerd, colocando-me à disposição para cooperar em tudo que fosse necessário. Infelizmente, percebe-se que não está condignamente sendo lembrado Ayres Gevard no seu Centenário. É preciso fazer justiça integral ao legado deste singular brusquense, que é homenageado com a denominação da Unidade Escolar da localidade de Volta Grande, a Escola de Ensino Fundamental Rotary Club Companheiro Ayres Gevaerd.
Pela sua trajetória de trabalho em prol de uma comunidade, Ayres Gevaerd situa-se num patamar diferenciado na história de Brusque. No seu centenário de nascimento, além do louvor ao Criador por nos ter concedido a dádiva de um ser humano tão singular e de prestarmos justo preito de gratidão e reconhecimento pela sua vida e sua obra, que possamos nos inspirar em seus bons propósitos de sermos construtores da civilização do amor. Feliz uma comunidade, um município, um estado ou uma nação que possam contar com um cidadão com o espírito público e a devoção à Memória e ao Bem Comum - que tanto amou e dedicou sua vida por sua terra e sua gente - como Ayres Gevaerd. Laudate Dominum!
*Paulo Vendelino Kons, 42, atuou diariamente na Casa de Brusque com Ayres Gevaerd, nos últimos anos de sua vida.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário