Celso Deucher
[celsodeucher@hotmail.com]
Era um sábado, dia 3 de abril e não me esqueço mais da data por que neste dia a artista plástica Denise Dubiella me ligou convidando para uma visita a qual aceitei prontamente. Em meio a reconstrução da sua casa falamos de diversos assuntos ligados a cultura local e lá pelo meio da prosa confessei a Denise minha frustração por não haver ainda na cidade um livro sobre o Movimento Cultural brusquense dos últimos 50 anos. De pronto ela me disse que conhecia uma pessoa que eu não poderia deixar de entrevistar, pois este artista saberia contar, em detalhes, tudo que aconteceu nas artes plásticas, na música, no folclore, na literatura e nas demais manifestações culturais de Brusque. Esta pessoa era Jorge Hartke. Como já conhecia o Jorge, aceitei de pronto a sugestão e Denise ficou de marcar com ele, para a semana seguinte, uma entrevista.
Os dias se passaram e soube pela imprensa que no dia 15 de abril, nosso artista havia falecido. Assim, partiram também com ele muitas informações preciosas vividas e aprendidas no cotidiano de nossa cidade. Perdemos sem dúvida um grande e respeitado artista brusquense.
Conheci Jorge Hartke em vida e tivemos algumas oportunidades de conversar, mesmo que brevemente. Uma das conversas que lembro-me muito bem aconteceu enquanto ele limpava o seu jardim e eu trabalhava na Fundação Cultural, em fevereiro de 2009. Vendo seu esmero e capricho, na manutenção do jardim da sua casa fiz um elogio despreocupado ao que ele me respondeu na lata: “Isso aqui é parte da nossa cultura brusquense e meu pai já havia me ensinado que não adianta ter uma casa linda se o jardim não for bem cuidado”. E foi além ao me confessar sua preocupação com a perda de identidade do que ele chamou de “brusquense nato”. “Nos últimos tempos o pessoal anda muito relaxado com o patrimônio moral e cultural. Nossa cidade como um todo, esta mudando rapidamente e com isso acho que nos últimos anos o brusquense tradicional perdeu aquele impulso para manter os nossos costumes, como esse aqui de se orgulhar de ter um jardim bem ajeitadinho”, disse.
Descendente de uma das mais tradicionais famílias brusquenses, os antepassados de Jorge Hartke são alemães-poloneses naturais da região de Tomashow (também conhecida como Tomaszów-Mazow, tradicional centro têxtil da Polônia) imigrados para o Brasil em 1926. Jorge é neto de Henrique e Wanda (Tietzmann) Kartke. Para saber um pouquinho mais sobre os antepassados de Jorge conversamos na manhã de ontem, dia 9, com seu primo, Curt Hartke. “Os filhos de meus avós Henrique e Wanda são Ricardo, Alfredo, Edmundo, Paulo, Roberto, Lidia e Elfrieda. O meu pai era o Ricardo, casado com Miriam Ullber. O pai do Jorge era Roberto Hartke casado com a dona Elly Appel”, explica Curt. Segundo ele, seu avô Henrique veio da Polônia alguns meses depois de seu irmão, Wilhelm Hartke casado com Emilie e que também deu origem a uma grande família em Brusque. “Somos todos parentes”, diz ele.
Segundo o historiador Paulo Vendelino Kons, “Jorge Hartke nasceu em Brusque no dia 10 de abril de 1945. Teve um irmão, o magistrado Roberto Hartke Filho, falecido prematuramente aos 54 anos, em três de setembro de 2005”. Roberto era esposo de Marise Westphal Hartke, diretora proprietária da Rádio Diplomata FM de Brusque e que atualmente é a presidente da Acaert (Associação Catarinense de Rádio e Televisão).
Jorge Hartke notabilizou-se em Brusque e no país como professor e músico. Segundo Kons, ele “iniciou seus estudos musicais em Brusque, frequentando os Conservatórios de Música de Brusque e Blumenau, após foi aluno de Telmo Locatelli, em Porto Alegre/RS. Graduou-se no Curso Superior de Instrumento – Piano, da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 1974, integrando a classe da Professora Ingrid Seraphim. Aperfeiçoou-se no Rio de Janeiro com Arnaldo Estrella (piano) e Esther Scliar (matérias teóricas), como bolsista da Sociedade Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux e do Departamento de Cultura do Estado de Santa Catarina”.
Ainda segundo este historiador, “na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) especializou-se em Música, no ano de 1989. Frequentou vários cursos internacionais de Música em Curitiba e Blumenau. Dentre seus mestres, Eduardo Hazan, Fernando Lopes, Henriqueta Duarte, Sebastian Benda, do Brasil, Werner Gemuit, da Alemanha e Bruno Seidlhofer, da Áustria. Através do Parecer nº 823/77 do Conselho Federal de Educação (CFE), foi indicado para lecionar elementos da Estética e História da Arte e Folclore Brasileiro”.
Como um dos nossos mais ativos militantes do magistério e da musica e ainda um inveterado colecionador e incentivador das artes plásticas, Bruno também foi Solista da Orquestra de Câmera do II Seminário de Música de Blumenau e da Orquestra Sinfônica da Universidade do Paraná. “Teve intensa atividade no magistério como professor de piano na Associação Artístico-Cultural de Brusque (ASSAC) e na Escola Superior de Música de Blumenau da Sociedade Dramático Musical Carlos Gomes. Dentre outras disciplinas, foi professor de História da Arte e História das Artes Plásticas na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Também atuou na Fundação Educacional de Brusque (FEBE) e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)”, enfatiza Paulo Kons.
Em sua vida artística participou em vários concertos como recitalista e camerista tanto em Santa Catarina como em outros Estados. “Foram inúmeras as realizações do pianista Jorge Hartke, tendo integrado a organização do 2º Salão Elke Hering, realizado de 10 de julho a 06 de agosto de 1995 em Blumenau, juntamente com Vilson Nascimento, Edson Machado, Jayro Schmidt, João Otávio Neves Filho (Janga) e Lindolfo Bell”, diz Kons.
Aos 65 anos, Jorge Hartke faleceu em Brusque no dia 15 de abril de 2010. Nos seus últimos anos de vida, parece que sentiu que não conseguiria vencer a enfermidade a que fora acometido. Aos poucos chamou amigos e entidades e passou a doar algumas de suas obras de arte e pertences de valor artístico. Entre estes pertences, doou um bandoneon da famosa marca Meinel & Heroind (que era herança de seu pai, Roberto Hartke) ao Instituto Aldo Krieger (IAK) e não teve tempo, em vida, de proceder a entrega ao mesmo instituto de seu piano. Este, segundo informa Paulo Vendelino Kons, foi transladado para o Museu Casa de Aldo Krieger às 9h do dia 11 de julho de 2010 e será “inaugurado” com uma grande homenagem ao artista neste sábado.
Uma justa homenagem
[celsodeucher@hotmail.com]
Era um sábado, dia 3 de abril e não me esqueço mais da data por que neste dia a artista plástica Denise Dubiella me ligou convidando para uma visita a qual aceitei prontamente. Em meio a reconstrução da sua casa falamos de diversos assuntos ligados a cultura local e lá pelo meio da prosa confessei a Denise minha frustração por não haver ainda na cidade um livro sobre o Movimento Cultural brusquense dos últimos 50 anos. De pronto ela me disse que conhecia uma pessoa que eu não poderia deixar de entrevistar, pois este artista saberia contar, em detalhes, tudo que aconteceu nas artes plásticas, na música, no folclore, na literatura e nas demais manifestações culturais de Brusque. Esta pessoa era Jorge Hartke. Como já conhecia o Jorge, aceitei de pronto a sugestão e Denise ficou de marcar com ele, para a semana seguinte, uma entrevista.
Os dias se passaram e soube pela imprensa que no dia 15 de abril, nosso artista havia falecido. Assim, partiram também com ele muitas informações preciosas vividas e aprendidas no cotidiano de nossa cidade. Perdemos sem dúvida um grande e respeitado artista brusquense.
Conheci Jorge Hartke em vida e tivemos algumas oportunidades de conversar, mesmo que brevemente. Uma das conversas que lembro-me muito bem aconteceu enquanto ele limpava o seu jardim e eu trabalhava na Fundação Cultural, em fevereiro de 2009. Vendo seu esmero e capricho, na manutenção do jardim da sua casa fiz um elogio despreocupado ao que ele me respondeu na lata: “Isso aqui é parte da nossa cultura brusquense e meu pai já havia me ensinado que não adianta ter uma casa linda se o jardim não for bem cuidado”. E foi além ao me confessar sua preocupação com a perda de identidade do que ele chamou de “brusquense nato”. “Nos últimos tempos o pessoal anda muito relaxado com o patrimônio moral e cultural. Nossa cidade como um todo, esta mudando rapidamente e com isso acho que nos últimos anos o brusquense tradicional perdeu aquele impulso para manter os nossos costumes, como esse aqui de se orgulhar de ter um jardim bem ajeitadinho”, disse.
Descendente de uma das mais tradicionais famílias brusquenses, os antepassados de Jorge Hartke são alemães-poloneses naturais da região de Tomashow (também conhecida como Tomaszów-Mazow, tradicional centro têxtil da Polônia) imigrados para o Brasil em 1926. Jorge é neto de Henrique e Wanda (Tietzmann) Kartke. Para saber um pouquinho mais sobre os antepassados de Jorge conversamos na manhã de ontem, dia 9, com seu primo, Curt Hartke. “Os filhos de meus avós Henrique e Wanda são Ricardo, Alfredo, Edmundo, Paulo, Roberto, Lidia e Elfrieda. O meu pai era o Ricardo, casado com Miriam Ullber. O pai do Jorge era Roberto Hartke casado com a dona Elly Appel”, explica Curt. Segundo ele, seu avô Henrique veio da Polônia alguns meses depois de seu irmão, Wilhelm Hartke casado com Emilie e que também deu origem a uma grande família em Brusque. “Somos todos parentes”, diz ele.
Segundo o historiador Paulo Vendelino Kons, “Jorge Hartke nasceu em Brusque no dia 10 de abril de 1945. Teve um irmão, o magistrado Roberto Hartke Filho, falecido prematuramente aos 54 anos, em três de setembro de 2005”. Roberto era esposo de Marise Westphal Hartke, diretora proprietária da Rádio Diplomata FM de Brusque e que atualmente é a presidente da Acaert (Associação Catarinense de Rádio e Televisão).
Jorge Hartke notabilizou-se em Brusque e no país como professor e músico. Segundo Kons, ele “iniciou seus estudos musicais em Brusque, frequentando os Conservatórios de Música de Brusque e Blumenau, após foi aluno de Telmo Locatelli, em Porto Alegre/RS. Graduou-se no Curso Superior de Instrumento – Piano, da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em 1974, integrando a classe da Professora Ingrid Seraphim. Aperfeiçoou-se no Rio de Janeiro com Arnaldo Estrella (piano) e Esther Scliar (matérias teóricas), como bolsista da Sociedade Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux e do Departamento de Cultura do Estado de Santa Catarina”.
Ainda segundo este historiador, “na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC) especializou-se em Música, no ano de 1989. Frequentou vários cursos internacionais de Música em Curitiba e Blumenau. Dentre seus mestres, Eduardo Hazan, Fernando Lopes, Henriqueta Duarte, Sebastian Benda, do Brasil, Werner Gemuit, da Alemanha e Bruno Seidlhofer, da Áustria. Através do Parecer nº 823/77 do Conselho Federal de Educação (CFE), foi indicado para lecionar elementos da Estética e História da Arte e Folclore Brasileiro”.
Como um dos nossos mais ativos militantes do magistério e da musica e ainda um inveterado colecionador e incentivador das artes plásticas, Bruno também foi Solista da Orquestra de Câmera do II Seminário de Música de Blumenau e da Orquestra Sinfônica da Universidade do Paraná. “Teve intensa atividade no magistério como professor de piano na Associação Artístico-Cultural de Brusque (ASSAC) e na Escola Superior de Música de Blumenau da Sociedade Dramático Musical Carlos Gomes. Dentre outras disciplinas, foi professor de História da Arte e História das Artes Plásticas na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Também atuou na Fundação Educacional de Brusque (FEBE) e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)”, enfatiza Paulo Kons.
Em sua vida artística participou em vários concertos como recitalista e camerista tanto em Santa Catarina como em outros Estados. “Foram inúmeras as realizações do pianista Jorge Hartke, tendo integrado a organização do 2º Salão Elke Hering, realizado de 10 de julho a 06 de agosto de 1995 em Blumenau, juntamente com Vilson Nascimento, Edson Machado, Jayro Schmidt, João Otávio Neves Filho (Janga) e Lindolfo Bell”, diz Kons.
Aos 65 anos, Jorge Hartke faleceu em Brusque no dia 15 de abril de 2010. Nos seus últimos anos de vida, parece que sentiu que não conseguiria vencer a enfermidade a que fora acometido. Aos poucos chamou amigos e entidades e passou a doar algumas de suas obras de arte e pertences de valor artístico. Entre estes pertences, doou um bandoneon da famosa marca Meinel & Heroind (que era herança de seu pai, Roberto Hartke) ao Instituto Aldo Krieger (IAK) e não teve tempo, em vida, de proceder a entrega ao mesmo instituto de seu piano. Este, segundo informa Paulo Vendelino Kons, foi transladado para o Museu Casa de Aldo Krieger às 9h do dia 11 de julho de 2010 e será “inaugurado” com uma grande homenagem ao artista neste sábado.
Uma justa homenagem
Reverenciando este grande ícone da cultura brusquense, o Instituto Aldo Krieger promove neste sábado, dia 11, uma homenagem póstuma a Jorge Hartke. O evento terá início às 19h, com a acolhida do presidente do Instituto, dr. Carmelo Krieger. Haverá em especial o descerramento da fotografia de Jorge Hartke, que será realizado após os pronunciamentos de Marise Westphal Hartke, cunhada, e Roberto Hartke Neto, sobrinho do homenageado. Com peças de Aldo Krieger e outros compositores, o pianista Alexandre Dietrich procederá a inauguração, nas dependências do Museu, do piano doado pela família de Jorge. Como parte da homenagem ao pianista e professor Jorge Hartke, será lançado o CD 20 Rondas Infantis de autoria de Edino Krieger e haverá a apresentação de peças de Aldo Krieger e outros compositores pelo pianista Alexandre Dietrich e Quarteto Cantaquatro. O evento é gratuito e aberto a comunidade. Acontecerá na sede do Museu Casa de Aldo Krieger, na rua Paes Leme, 63, Centro.
[Publicado no Jornal Tribuna Regional do dia 10/09/2010 – Página 14]
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