Capa livro Fanny: Uma vida em perspectiva |
Professor Aquiles Duarte de Souza |
Celso Deucher
(celsodeucher@hotmail.com)
Algum desalmado criou pânico esta semana entre uma parcela significativa de vovôs da cidade. Espalhou o boato de que um escritor local havia encontrado o “famoso caderninho de fiados” da Fanny e que estaria publicando na integra em um livro. Na longa lista de clientes da mais famosa cafetina brusquense, haveria um rosário de nomes conhecidos e gente da mais alta roda social da cidade. Todos freqüentadores assíduos ou como se diz hoje em dia “clientes de carteirinha” da casa de tolerância de Fanny.
“Teve gente muito preocupada e sem tirar isso a limpo não ficou descansado. depois de tanto tempo isso ai poderia criar dissabores reais na vida de muita gente”, confessa um dos preocupados vovôs que estava numa cafeteria da cidade e soube da bombástica notícia na terça feira, dia 27. “Mas eu acho que este tal caderninho nem existe. É papo furado deste povo. Pelo que eu sei a Fanny não tolerava dívidas e se o cidadão ficava lhe devendo ela o procurava e educadamente pedia ao cliente para escutar a Rádio Araguaia no dia seguinte. A sutileza do convite era o que bastava para até o final do dia o cidadão passar lá no estabelecimento dela e acertar as contas”, diz o mesmo vovô.
Esta tática de Fanny funcionava prá valer e se algum “corajoso” achava que poderia lhe passar a perna, podia esperar que no dia seguinte o informativo da Rádio Araguaia dava o recado: “Atenção fulano de tal (nome completo do devedor), dona Fanny solicita o comparecimento urgente em seu estabelecimento situado na rua tal, bairro Santa Terezinha, para tratar de assunto de seu interesse”... Era a apoteose da vergonha e do escárnio público. Todos sabiam que o dito cidadão estava mesmo era devendo “na casa” e seu nome de imediato era jogado no limbo em todo o comércio. Há quem diga que Fanny foi a precursora do SPC na cidade, pois afinal, quem devia para ela, estava irremediavelmente sujo na praça.
Mas voltando ao caderninho... O alivio dos nossos “vovôs” só veio quando descobriram que tudo não passava de um boato sem fundamento e que o livro, que será lançado nesta sexta feira, não traz revelação alguma sobre clientes da nossa Fanny e sim, algumas pinceladas interessantes da sua trajetória, como o papel educativo que Fanny exerceu na vida de muitos jovens da cidade, quando estes eram “iniciados na vida sexual”.
Fanny: uma vida em perspectiva
Na próxima sexta-feira, 30, às 19 horas, no auditório do Grupo Uniasselvi/Assevim, acontece o lançamento do livro “Fanny: uma vida em perspectiva”, do professor e historiador brusquense Aquiles Duarte de Souza. O livro é resultado da dissertação de mestrado do autor e está sendo lançado pela Editora Uniasselvi no projeto editorial de 2010, denominado “Memórias do Vale”, que tem por objetivo publicar obras de apoio à valorização histórica das cidades do Vale do Itajaí.
A história do livro é um resgate do passado da cidade de Brusque, trazendo à tona uma personagem principal: Francisca dos Anjos de Lima e Silva, a nossa conhecidíssima Fanny. Meretriz na década de 60 tornou-se muito conhecida no município, sendo peça evidente na formação dos jovens daquela época. A publicação aborda também a relação que Fanny tinha com a sociedade, e de como fez parte da história da região.
Aquiles traz no livro identidades veladas de uma cidade dando um novo sentido na medida em que vai lidando com os pressupostos da história cultural nos seus dois constructos principais: a representação e a apropriação. A obra trata de Brusque e da significação de Fanny, tão conhecida, respeitada e comentada.
A narrativa pretende contribuir na reconstrução da representação que a cidade faz hoje de alguns de seus personagens, além de contribuir para os processos educativos formais e informais. Porque, à maneira como as pessoas se pensam umas às outras e aos seus processos, é importante para o convívio social em qualquer cidade.
Na ocasião haverá uma exposição de fotos de Fanny, além da participação do grupo Poesia ao Pé da Lua, formada pelos artistas Emiliano de Souza, Lieza Neves e Patrícia de Souza. A entrada é gratuita.
“A pessoa de dona Fanny tem que ser preservada”
Algum desalmado criou pânico esta semana entre uma parcela significativa de vovôs da cidade. Espalhou o boato de que um escritor local havia encontrado o “famoso caderninho de fiados” da Fanny e que estaria publicando na integra em um livro. Na longa lista de clientes da mais famosa cafetina brusquense, haveria um rosário de nomes conhecidos e gente da mais alta roda social da cidade. Todos freqüentadores assíduos ou como se diz hoje em dia “clientes de carteirinha” da casa de tolerância de Fanny.
“Teve gente muito preocupada e sem tirar isso a limpo não ficou descansado. depois de tanto tempo isso ai poderia criar dissabores reais na vida de muita gente”, confessa um dos preocupados vovôs que estava numa cafeteria da cidade e soube da bombástica notícia na terça feira, dia 27. “Mas eu acho que este tal caderninho nem existe. É papo furado deste povo. Pelo que eu sei a Fanny não tolerava dívidas e se o cidadão ficava lhe devendo ela o procurava e educadamente pedia ao cliente para escutar a Rádio Araguaia no dia seguinte. A sutileza do convite era o que bastava para até o final do dia o cidadão passar lá no estabelecimento dela e acertar as contas”, diz o mesmo vovô.
Esta tática de Fanny funcionava prá valer e se algum “corajoso” achava que poderia lhe passar a perna, podia esperar que no dia seguinte o informativo da Rádio Araguaia dava o recado: “Atenção fulano de tal (nome completo do devedor), dona Fanny solicita o comparecimento urgente em seu estabelecimento situado na rua tal, bairro Santa Terezinha, para tratar de assunto de seu interesse”... Era a apoteose da vergonha e do escárnio público. Todos sabiam que o dito cidadão estava mesmo era devendo “na casa” e seu nome de imediato era jogado no limbo em todo o comércio. Há quem diga que Fanny foi a precursora do SPC na cidade, pois afinal, quem devia para ela, estava irremediavelmente sujo na praça.
Mas voltando ao caderninho... O alivio dos nossos “vovôs” só veio quando descobriram que tudo não passava de um boato sem fundamento e que o livro, que será lançado nesta sexta feira, não traz revelação alguma sobre clientes da nossa Fanny e sim, algumas pinceladas interessantes da sua trajetória, como o papel educativo que Fanny exerceu na vida de muitos jovens da cidade, quando estes eram “iniciados na vida sexual”.
Fanny: uma vida em perspectiva
Na próxima sexta-feira, 30, às 19 horas, no auditório do Grupo Uniasselvi/Assevim, acontece o lançamento do livro “Fanny: uma vida em perspectiva”, do professor e historiador brusquense Aquiles Duarte de Souza. O livro é resultado da dissertação de mestrado do autor e está sendo lançado pela Editora Uniasselvi no projeto editorial de 2010, denominado “Memórias do Vale”, que tem por objetivo publicar obras de apoio à valorização histórica das cidades do Vale do Itajaí.
A história do livro é um resgate do passado da cidade de Brusque, trazendo à tona uma personagem principal: Francisca dos Anjos de Lima e Silva, a nossa conhecidíssima Fanny. Meretriz na década de 60 tornou-se muito conhecida no município, sendo peça evidente na formação dos jovens daquela época. A publicação aborda também a relação que Fanny tinha com a sociedade, e de como fez parte da história da região.
Aquiles traz no livro identidades veladas de uma cidade dando um novo sentido na medida em que vai lidando com os pressupostos da história cultural nos seus dois constructos principais: a representação e a apropriação. A obra trata de Brusque e da significação de Fanny, tão conhecida, respeitada e comentada.
A narrativa pretende contribuir na reconstrução da representação que a cidade faz hoje de alguns de seus personagens, além de contribuir para os processos educativos formais e informais. Porque, à maneira como as pessoas se pensam umas às outras e aos seus processos, é importante para o convívio social em qualquer cidade.
Na ocasião haverá uma exposição de fotos de Fanny, além da participação do grupo Poesia ao Pé da Lua, formada pelos artistas Emiliano de Souza, Lieza Neves e Patrícia de Souza. A entrada é gratuita.
“A pessoa de dona Fanny tem que ser preservada”
Na tarde de quarta feira conversamos com o autor da obra, Aquiles Duarte de Souza, que confessou que a idéia de fazer um livro sobre a Fanny, a escola e sobre Brusque na década de 1960 surgiu no mestrado em educação que fez pela UNIVALI. “Em princípio, minha pesquisa seria sobre o Livro do Ensino Médio e o Negro a partir da LDB, porém, numa aula a tarde falando sobre pessoas importantes no contexto urbano, mas que são esquecidas, mencionei a Fanny e outras personagens de Brusque. Minha orientadora, Dra. Solange Puntel Mostáfa, achou esse viés muito interessante e acabamos nos direcionando para a figura da Fanny”, diz ele.
No livro, o autor dedica bondosas páginas para falar da Brusque que ele cresceu. “Falo de dona Edla Schaeffer, mãe do saudoso doutor Márcio Clóvis Schaeffer que foi uma pessoa importante no meu processo de aprendizagem e enfoco a escola e a educação como um todo e é nesse processo que entra a figura da Fanny”, afirma Aquiles.
Para leitores não tão acostumados com livros científicos, a obra de Aquiles pode parecer diferente, pois dedica grande parte a citações e explicações de cientistas sociais e pedagogos. “Como pesquisa científica há que ter todo um aporte teórico metodológico e nas entrevistas (três alunos da escola na década de 1960 e três professores) a Fanny é envolvida não propriamente no aspecto de prostituição mas no de auxiliar da educação já que ela ensinava os meninos a se portarem como homens no que se poderia chamar de rito de passagem”, explica o autor.
Segundo ele, o que lhe chamou a atenção no decorrer das pesquisas é o fato de na memória popular, a Fanny surgir como “Dona Fanny”, respeitada, amada, saudosa, corajosa, lutadora, uma mulher a frente de seu tempo. “Os dados biográficos em sua grande maioria, fotos e documentos, foram oferecidos pela filha de Fanny, dona Dalbérgia, que muito gentilmente me atendeu inúmeras vezes e sem cujo auxílio teria sido impossível fazer essa pesquisa. Ela me estimulou muito porque é uma maneira de preservar a memória de sua mãe e mostrar uma vertente de mulher lutadora e honrada” relembrou Aquiles.
Um dos aspectos mais surpreendentes da pesquisa, na visão do autor, foi sem dúvida o fato de a Fanny ser casada com Eduardo de Lima e Silva Hoerham, sobrinho neto do Duque de Caxias, fundador da reserva indígena Duque de Caxias de Ibirama. “Mas além de tudo isso, a Fanny foi uma necessidade de seu tempo quando as práticas sociais e de educação eram, claro, próprias daquele tempo. Atualmente os costumes são outros, as práticas são outras. Após a década de 60, tivemos uma reviravolta social e mudanças incríveis. Porém, a pessoa de dona Fanny tem que ser preservada. Sua memória e sua importância lembradas. Seu papel na história da cidade de Brusque tem que ser guardado e divulgado”, finalizou ele.
[Publicado no Jornal Tribuna Regional em 30 de julho de 2010. Página 14]
Boa tarde,
ResponderExcluirAchei muito interessante seu livro, isso daria uma ótima minissérie da globo com certeza....
BETH