sábado, 17 de dezembro de 2011

“Quem é este cara?”

Celso Deucher*

Professor sofre! A constatação não é necessariamente pela questão salarial, as más condições das salas, alunos mal educados pelos pais... Óbvio que tudo isso faz a gente sofrer. Mas o que mais dói em um professor é chegar numa sala de aula do terceiro ano secundário e encontrar certos alunos que simplesmente parecem ter descido de Marte e não ter tido tempo de sequer saber o básico da história da sua cidade. Que povos indígenas habitavam este território antes da chegada os povos colonizadores, quais foram as etnias que construíram a cidade, quais os elementos culturais que mais identificam Brusque, etc.

Com exceção dos migrantes que diariamente aportam na cidade (e por isso não teriam esta obrigação de conhecer imediatamente), a esmagadora maioria dos nossos estudantes secundaristas simplesmente não sabe sequer a data de fundação do município. Perguntar quem foram os próceres da colonização é pedir prá sofrer em dobro.
Não é novidade a ninguém que estamos perdendo nossos mais importantes valores culturais e isto se deve em grande parte pela falta de conhecimento do nosso passado histórico. Quem conhece geralmente preserva e passa adiante estes valores, pois sabe o quanto eles são importantes.
Dia destes durante uma de minhas aulas deparei-me com uma indagação interessante de um aluno sobre a história da cidade. Falava aos estudantes sobre o Barão von Schneeburg e as suas dificuldades em administrar a Colônia lá nos idos de 1860. No meio da preleção um aluno (brusquense nato) levanta a mão e me pergunta: quem é esse cara?
Ora bolas, pensei eu cá com meus botões: este “cara” já deveria ter estudado e aprendido sobre este personagem histórico lá no primário e como é que ele me chega aqui no final do ensino médio e tem a coragem de me perguntar uma coisa tão básica como esta?
Normalmente a gente já procura alguém para colocar a culpa e não me ocorreu outra pessoa que não fosse a professora que este garoto teve lá, logo depois do “prézinho”. Pior de tudo, não é apenas um aluno aleatório que não conhece a história, pois me dei ao trabalho de tentar arrancar da turma toda quem era o tal Schneeburg e simplesmente não consegui. Ninguém dos 28 alunos na sala sabia quem foi “esse cara”.
Passado a irritação com a fatídica pergunta, me dei conta que na verdade não há apenas um culpado pelo desastroso processo de aprendizagem escolar. Essas “inteligências desfalcadas” vem desde a educação familiar e passa necessariamente pela via política. Afinal, nossos governos andam dando muito mais importância a política (inclusive dentro de sala de aula) que ao aprendizado propriamente dito daquilo que estes alunos são, a que mundo pertencem, a sua cidade, o seu bairro, a sua família...
No Brasil, se o “cara” aprendeu as lições na escola passa de ano; se não aprendeu, passa também. Tudo resolvido e geralmente se tem alguém culpado disso tudo é o “peste” do professor que fica passando coisa difícil na tentativa de rodar um mequetrefe que vai para a escola apenas prá ver a “galera”. Conhecimento prá que se o vivente pode chegar a ser presidente do país sendo analfabeto? Salvo seu invejável curriculum como líder sindical e político, infelizmente o nosso ex presidente deixou esta péssima “lição”.
Pois muito bem, voltamos ao cara... Ao finalizar minha aula dei como tarefa aos alunos uma pesquisa sobre a participação do Conselheiro Francisco Carlos de Araújo Brusque na fundação do município. Qual não foi a minha surpresa ao ver na aula seguinte, que mesmo com internet e biblioteca a disposição, 90% dos alunos não conseguiram achar nada sobre este outro “cara”.
Irritado levei todos para a sala de informática e solicitei que escrevessem o nome corretamente do Conselheiro no Google e que fizessem a pesquisa sob minha supervisão de imediato. Mais uma vez sofri as pampas e quebrei a cara feio. Havia meia dúzia de linhas escrita sobre o Conselheiro no Wikipedia e praticamente nada mais, salvo citações de revesgueio de um ou outro cronista do ciberespaço. Uma vergonha.
Pensei nos livros de história, mas logo desisti, pois sei que na biblioteca do colégio há dois exemplares de livros que falam sobre este personagem e nada mais. Deu prá notar como professor sofre?...
Após a morte de nosso mais importante historiador, Ayres Gevaerd, ficamos de certa forma órfãos de pesquisadores obstinados pela nossa história local. Mas, ainda há esperança que nossos pesquisadores voltem a fazer-se perguntas como me fez este aluno e vão a campo buscar as respostas. Afinal, como bem diz aquele comercial: “Não são as respostas que movem o mundo... são as perguntas”. Eu aprendi a lição.

Resgatando a história de Brusque: Araújo Brusque ganha busto na praça

 
Justamente no sentido do que vínhamos falando neste artigo, na semana passada uma ação digna de registro aconteceu em Brusque. O artista plástico e escultor Walter de Oliveira, é daqueles que acreditam que “cultivar o passado é construir o futuro”. Ele é o escultor que construiu a herma (busto) do Conselheiro Francisco Carlos de Araujo Brusque, ex governador de Santa Catarina, cujo sobrenome, veio a nomear a nossa cidade mais tarde.
Desde a manhã do último dia 7, a imagem do “padrinho” da criação da então Colônia Itajahy (futura Brusque) passou a fazer parte das atrações da Praça Sesquicentenário. A obra foi oficialmente apresentada à comunidade brusquense em cerimônia especial que contou com a presença de autoridades municipais e do escultor e artista Walter de Oliveira, que prestou a homenagem doando a obra para o município.
Oliveira é paulista de nascimento, mas adotou Brusque para viver, há 53 anos. Durante a cerimônia ele falou sobre sua empolgação em esculpir a imagem do Conselheiro, bem como agradeceu o apoio que recebeu da Fundação Cultural de Brusque para desenvolver o projeto. “Hoje estou muito orgulhoso por fazer parte da comunidade, com uma peça neste espaço tão nobre inaugurado recentemente”, declarou o escultor.
O prefeito Paulo Eccel, empolgado com o gesto, agradeceu o  artista e emendou que “mais ainda que uma homenagem a importante personagem da história da cidade, o busto também deve ser lembrado como uma homenagem aos gaúchos de Brusque, que também adotaram o município e a própria praça para seus momentos de lazer”.
Durante a solenidade, o historiador da Fundação Cultural, Marlus Nieburg fez uma breve apresentação do Conselheiro Araújo Brusque, o que deu aos presentes um maior conhecimento sobre a relação deste político com a realidade do município. Para Walter de Oliveira, “na realidade poucos conheciam a importância do Conselheiro em todo o Estado de Santa Catarina, quando este era seu governador”, fato que foi destacado no histórico apresentado por Nieburg.
Oliveira destaca os dois principais motivos que o levaram a resgatar esta figura histórica. Uma delas é a beleza plástica da sua figura do Conselheiro inserida na página 4 do Álbum do Centenário de Brusque. Já a outra, e principal, é a ausência didática da biografia do Conselheiro. “Somos em verdade um país sem memória e penso que a partir deste trabalho onde resolvi resgatar as figuras que compõem o quadro histórico de Brusque a partir do século 19 e 20, as pessoas tenham a curiosidade de ir buscar maiores informações sobre estes vultos da nossa história”, disse.


Quem foi Araújo Brusque

Nascido em Porto Alegre, RS, no dia 24 de maio de 1822, o Conselheiro Francisco Carlos de Araújo Brusque foi presidente da província de Santa Catarina de 21 de outubro de 1959 até 17 de abril de 1861. Filiado ao Partido Liberal, foi nomeado presidente de Santa Catarina por Carta Imperial de 6 de setembro de 1859. Entre outros cargos importantes exercidos por este gaúcho estão também a presidência da província do Pará de 1861 a 1863.e o Ministério da Marinha, cargo exercido de 31 de março a 31 de agosto de 1864, além de ministro da Guerra, de 31 de maio a 31 de agosto de 1864.
Além de uma profícua administração a frente do Estado, neste período acompanhou pessoalmente os primeiros imigrantes alemães que se instalaram na “Colônia Itajahy”, no ano de 1860, e de onde surgiu a homenagem em nomear a nova localidade com seu nome.
Faleceu em Pelotas no Rio Grande do Sul em  23 de setembro de 1886. Seus restos mortais hoje descansam em Brusque, num mausoléu construído para este fim na frente do Museu Casa de Brusque, na Avenida Otto Renaux.

Baronesa Augusta Knorring

Walter de Oliveira é um apaixonado não apenas pelas artes plásticas, mas também pelo resgate da nossa história. Com a entrega do busto de Araújo Brusque, pretende vencer outro desafio, reconstruindo outro importante personagem da nossa história. Ele vai resgatar através de um busto, a história da Baronesa Sofia Augusta Von Knorring, professora e uma das criadoras da primeira escola feminina de Brusque. “Na semana que passou fui ao bairro Cerâmica Reis, visitar o Grupo escolar Augusta Knorring, para conseguir mais alguns detalhes sobre esta majestosa figura, de configuração austera, me pareceu”, conta Oliveira. “Durante a visita ao educandário fui muito bem recebido pela diretora Graziela Maffezzolli, que ficou entusiasmada com a minha idéia de esculpir um busto da baronesa”, confessou. Segundo ele, o busto será colocado na praça do bairro e deve ficar pronto no segundo semestre do ano de 2012.

[Artigo publicado no Jornal EM FOCO, Brusque SC, na edição de 13/12/2011, páginas 8 e 9]

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