O sesquicentenário do Cônsul Carlos Renaux
Paulo Vendelino Kons*
Há exatos 150 anos, na cidade de Loerrach, no Grão Ducado de Baden (sul da Alemanha) nascia Carl Christian Renaux, em 11 de março de 1862. De uma família de classe média, tinha escolaridade equivalente ao atual ensino médio e treinamento como aprendiz no Banco Hipotecário de Loerrach. Emigrou para o Brasil em 1882, com carta de recomendação do banco onde trabalhara. Imigrante alemão de sobrenome francês, empregou-se como caixeiro de uma casa comercial no Salto Weissbach (zona oeste de Blumenau). (…) Em 1890, nomeado pelo governo estadual, presidiu o Conselho Municipal. Foi escolhido para o cargo de Superintendente (Prefeito Municipal) em várias gestões. Renaux era republicano e a derrubada do Regime Monárquico, em 15 de novembro de 1889, constituiu-se em fator determinante para a sua entrada bem-sucedida na arena política. A proclamação da República deixara algumas figuras importantes da política em situação difícil, abrindo espaço para novas lideranças, habilitadas pela naturalização concedida pela novel Constituição. Como partidário de Lauro Müller e Felipe Schmidt, Carlos Renaux foi eleito para compor a Assembleia Constituinte de Santa Catarina, em 1891. Carl Christian Renaux, associado a Paul Hoepcke e Augusto Klappoth, com os tecelões poloneses e outros colaboradores, acionou em 11 de março de 1892 os primeiros teares da fábrica de tecidos pioneira em Brusque, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Na revolução federalista estava entre os legalistas, participando, inclusive, das lutas contra os revoltosos na capital. Em Blumenau foi preso e condenado à morte por fuzilamento, a mando do general Gumercindo Saraiva (um dos comandantes das tropas rebeldes – maragatos - durante a Revolução Federalista). Foi salvo pelo chefe do partido federalista blumenauense, Elesbão Pinto da Luz, que atuara em Brusque. Com a derrota dos federalistas, Elesbão foi condenado à pena de morte, figurando entre os fuzilados na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, por ordem direta de Antônio Moreira César (que no governo de Santa Catarina promoveu um 'ajuste de contas': prisões e fuzilamentos sumários de militares e civis foram praticados em represália à rebeldia federalista, inclusive o fuzilamento do Marechal Gama d'Eça - primeiro e único barão de Batovi - sendo que o coronel Moreira Cesar teria recebido ordens de Floriano Peixoto para assim proceder). Na política local, Carlos Renaux suplantou em definitivo o seu principal adversário Guilherme Krieger (coronel comandante da Guarda Nacional em Brusque), nas eleições de 1914. (...)
Por que Consul?
Carlos Renaux é um personagem ilustre da história da industrialização em Santa Catarina. Ele montou na cidade de Brusque uma das primeiras tecelagens do estado, que deu origem às Indústrias Renaux.
Em 1918, recebeu o título de cônsul honorário do Brasil em Arnhem, na Holanda. E a partir daí passou a ser chamado apenas pelo título. Foi sempre um empresário respeitado e admirado em Brusque. Santa Catarina e no Brasil.
O Cônsul era um homem rico e se encantava com as últimas novidades que chegavam da Europa. Foi o primeiro cidadão de todo o Vale do Itajaí a possuir uma geladeira e um ar condicionado importados.
Entusiasta do progresso, o Cônsul criou a Fundação Cultural e Beneficente Cônsul Carlos Renaux para financiar projetos que trouxessem benefícios para a cidade de Brusque.
Dessa Fundação veio o dinheiro para que Rudolfo Stutzer montasse a oficina onde acabou sendo produzida a primeira geladeira brasileira. Na pequena oficina na rua Tiradentes, dois homens curiosos e idealistas, Guilherme Holderegger e Rudolfo Stutzer, fabricavam anzóis, fios elétricos e peças para bicicletas e consertavam de tudo um pouco. Até que um dia apareceu uma geladeira a querosene, importada, para consertar. Geladeira no Brasil naquela época, só importada, e encontrada somente na casa de gente muito rica. Não sobrou peça sobre peça. Os dois desmontaram toda a geladeira, estudaram cada pedacinho e partiram para o que na época era uma grande aventura: fabricar o primeiro refrigerador brasileiro. Juntamente com Wittich Freitag e com ajuda financeira do Cônsul Carlos Renaux, do qual Stutzer era motorista e amigo, o primeiro refrigerador foi chamado de CONSUL (escrito sem acento) em homenagem ao benfeitor. Quando a oficina virou fábrica, em 1950 num pequeno galpão de 680 m2 na cidade de Joinville, a homenagem permaneceu e deu origem à Indústria de Refrigeração Consul. O primeiro refrigerador, chamado de CONSUL JÚNIOR, que era a querosene e funcionava com resistência elétrica, logo se transformou num grande sucesso. Nos dados corporativos da empresa, consta como fundadores Carlos Renaux, Guilherme Holderegger, Rudolfo Stutzer e Wittich Freitag.
“BERÇO DA FIAÇÃO CATARINENSE
Indústria têxtil de Brusque completa 120 anos”
Com empresas em recuperação judicial - medida legal destinada a evitar a falência, proporcionando ao empresário devedor a possibilidade de apresentar, em juízo, aos seus credores, formas para quitação do débito - e outra com falência decretada, a indústria têxtil da cidade 'berço da fiação catarinense' completou 120 anos, domingo, 11 de março de 2012, data que no ano da Graça do Senhor de 1892 marcou a entrada em funcionamento dos teares da indústria pioneira, a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, que desencadeou um profícuo e contínuo processo de estabelecimento da iniciativa industrial em Brusque. A Fábrica teve sua gênese com oito teares manuais, instalados dentro do depósito de mercadorias do comerciante Carl Christian Renaux, localizado na rua Barão do Ivinheima - atual avenida Cônsul Carlos Renaux. Para a sua fundação, Carlos Renaux associou-se ao agricultor e comerciante Augusto Klappoth e a Paul Hoepcke (irmão de Carl Franz Albert Hoepcke), também comerciante, com atuação em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis).
A chegada de tecelões provenientes da região têxtil de Lodz, na Polônia, foi decisiva para a implantação do ramo têxtil em Brusque, pois detinham o conhecimento do ofício de transformar fios de algodão em tecido. (...)
Colônia inglesa instalada há 145 anos em Brusque
Há 145 anos, em 10 de março de 1867, dr. Barzillar Cottle, por nomeação de Sua Alteza Imperial D. Pedro II, liderando 98 imigrantes provenientes dos Estados Unidos, instalou a colônia Príncipe Dom Pedro, com sede na confluência do Ribeirão Águas Claras com o rio Itajaí Mirim e território equivalente aos atuais municípios de Botuverá, Nova Trento (atingindo até o Ribeirão do Crecker, no atual município de São João Batista) e margem direita de Brusque. A instalação da colônia Príncipe Dom Pedro marcou a tentativa governamental de instalar uma colônia de língua inglesa na região.
Buscando atrair mão-de-obra dos Estados Unidos, foi constituída a Sociedade Internacional de Imigração, no Rio de Janeiro, em 11 de janeiro de 1866. Até março de 1867, 1.039 imigrantes, procedentes de Nova York, haviam sido introduzidos no Brasil. O ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas promovia a emigração de colonos dos Estados Unidos. Além das promessas do Governo imperial brasileiro, a Guerra Civil norte-americana constituíu-se numa forte razão para emigrar. “Destruição e ruínas, desolação e fome cobriram a terra, da Virgínia até o Texas. Campo de batalha para os exércitos em conflito durante toda a Guerra, a Virgínia se transformou de um jardim em um deserto; os incendiários de Sheridan tinham arrasado tudo a ponto de nem os passarinhos terem o que comer. Entre Richmond e Washington, só montes de cinzas. Nos arredores de Petersburg, animais mortos e estilhaços de canhões e a terra encharcada de sangue. Nunca houve tanta devastação e tamanha nudez em uma terra civilizada”.(Lauth, p. 40, citando Laurence Hill, in Confederate Exodus to Latin America). Logo após a Guerra, os confederados partiram para novos lugares. Dirigiram-se para o México, Canadá, Venezuela e também o Brasil, onde implementaram inúmeras colônias, casos de Americana e Santa Bárbara do Oeste, na província de São Paulo.
Ainda em março de 1867, 19 novos imigrantes, vindos do Sul dos Estados Unidos, foram destinados à colônia Príncipe Dom Pedro. O professor Aloisius Lauth, estudioso da presença de colonizadores de língua inglesa no Brasil, informa que o “Dr. Cottle desceu o rio Itajaí Mirim e foi buscá-los em pequenas embarcações”.
A partir de 12 de abril do mesmo ano, Cottle passou também a administrar a colônia Itajahy, instalada em 4 de agosto de 1860, pelo barão austríaco Maximilian von Schneéburg e 55 alemães. O território era equivalente ao atual município de Guabiruba e a margem esquerda de Brusque. Dr. Cottle, oficiando a presidência da província de Santa Catharina, informou “não falar nem entender a língua alemã”. Era previsível o insucesso de um diretor inglês administrando, além da sua colônia, uma colônia alemã. E o conflito não tardou em surgir. Em 11 de julho, Dr. Barzillar requer a construção de uma cadeia. A sub-delegacia de polícia, que serviria a colônia inglesa e a colônia alemã, é criada em 19 de agosto. Ainda em 1867, padre Alberto Gattone registra o primeiro casamento na colônia Príncipe Dom Pedro: Miguel O’Connel e Sara Genly, naturais da Irlanda. Tiveram como padrinhos Carlos Galangher e Anthony Wooley. Em 1867 também é registrado o nascimento de Margareth, em 19 de dezembro. Filha de Alexandre e Elisa Norrison, é batizada pelo pastor Anton Sandreczki, em 9 de abril do ano seguinte. (...)
Observo que a temática mereceu destaque também na capa e no Editorial, publicado na página 2 da referida edição da Tribuna Regional.
Também registro a importância da colaboração de informações e fotografias da Professora Doutora Maria Luiza Renaux e de informações de Ayres Gevaerd (in memoriam) e da Casa de Brusque, de Aloisius Carlos Lauth e do advogado Nilo Sérgio Krieger para a composição dos textos.
*Paulo Vendelino Kons é historiador. Rua Adelina Debatin, nº 79 – bairro Águas Claras. Telefone (47) 9997 9581. Cep: 88353-610 - Brusque SC.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário