domingo, 12 de agosto de 2012

Brusque 152 anos: Memória e Contemporaneidade

Vista de Brusque em 2012 - Foto Rádio Cidade.

Paulo Vendelino Kons

“É feliz quem gosta de se lembrar de seus ancestrais, que fala com alegria de seus feitos e de sua grandeza e quem, no final da bonita fila, vê colocado, silenciosamente, o seu próprio nome.” Johann Wolfgang von Goethe

A memória e o conhecimento da própria história, além de instigar nossa atitude crítica perante a vida e nós mesmos, são patrimônios singulares e muito preciosos de uma comunidade. São formadores da matéria-prima essencial e insubstituível à construção do amanhã. A consciência do que fomos e do que somos é que nos permite, dia a dia, moldar o que seremos, ou do que poderíamos vir a ser. Ao contrário dos adeptos do marxismo cultural - Marx escreveu nas suas Teses sobre Feuerbach, de 1846, que os problemas teóricos encontravam solução na prática, o que é revelado nas ações dos seus seguidores, que invariavelmente querem no poder instituir um reino da verdade, no qual a discussão desaparece e nada além da ideologia deve ser ensinado nas escolas, universidades, meios de comunicação, tribunais, em toda parte, sendo a História uma das principais vítimas - entendo relevante deixarmos os "fatos falarem", ressaltando o traço humano nos episódios históricos. Compartilhamos o pensamento de Dietrich Bonhoeffer (enforcado pelos nazistas) de que “o respeito pelo passado e a responsabilidade pelo futuro dão à vida a direção certa”.

Assim, na efeméride do 152º. aniversário de instalação do núcleo colonial hoje transmudado na Brusque de cada um de nós, neste ano da graça do Senhor de 2012, uma vez mais nos sensibiliza e chama à reflexão a epopeia do barão austríaco Maximilian von Schneéburg, liderando 55 pioneiros alemães, que em 4 de agosto de 1860 instalaram a colônia imperial Itajahy. As famílias vieram em pequenas embarcações, através do rio Itajaí Mirim. Atracaram num pequeno porto, hoje praça Vicente Só. Desde a formação do tecido social multiétnico, integrado também por ingleses (1867), poloneses (1869), italianos (1875), lusos e outras etnias, o pioneirismo marca a trajetória dos brusquenses. Além de constituir-se no berço da fiação e do futebol catarinense, Brusque deu origem aos Jogos Abertos, ao voto eletrônico e possui a mais antiga Sociedade de Atiradores, o Schützenverein, em funcionamento no Brasil.

Apesar das muitas dificuldades, a disposição para a construção de um novo lar, na nova terra, alicerçada em valores cristãos, impulsionaram os pioneiros a transmudarem a geografia social e econômica, não só no Vale, mas refletindo até na transformação da província e do império. Preocupados com a hegemonia alemã na região, o império implementou uma colônia ianque na região, a colônia Príncipe Dom Pedro, em 1867. Após desilusões e conflitos, os imigrantes de língua inglesa abandonam a região e ocorre a unificação administrativa das colônias que viriam a formar a Freguesia de São Luiz. Cerca de 10 mil imigrantes italianos são introduzidos a partir de 1875, dentre os quais uma menina hoje conhecida por Santa Paulina. Mantendo a denominação São Luiz Gonzaga, é criado o Município em 1881. A denominação Brusque foi adotada em 17 de janeiro de 1890, homenagem póstuma ao conselheiro imperial Francisco de Araújo Brusque, cujos despojos há doze anos transladamos para Brusque. Os “tecelões de Lodz”, como são chamados os imigrantes chegados a partir de 1889, de antiga região industrial alemã na Polônia, contando com a liderança de imigrante franco alemão bem relacionado na área, Carlos Renaux, contribuem decisivamente para a instalação da indústria têxtil em Brusque, em 1892. Com a publicação do Brusquer Zeitung, há um século a região passa a ter seu jornal (1912). No ano seguinte, a energia elétrica e a fundação do Sport Club Brusquense, clube pioneiro do futebol catarinense.

A tomada de Brusque, a 13 de outubro de 1930, por tropas da Aliança Revolucionária Liberal, representou a ruptura do poder político, que concentrava-se nos coronéis Krieger e Renaux. Com a "política de nacionalização" do Estado Novo, implementada em Santa Catarina pelo interventor Nereu Ramos, ocorreram prisões arbitrárias e a destruição da literatura e outros marcos culturais dos imigrantes e descendentes. No centenário de fundação, Brusque cria os Jogos Abertos, segunda maior competição poliesportiva amadora do Brasil. A ampliação do panorama industrial de Brusque se dá com a inserção do setor metalúrgico na economia local a partir dos anos 60 e a partir da segunda metade da década de 1980, a cidade vivencia um novo ciclo, verdadeira revolução econômica, com a instalação de centenas de confecções e milhares de postos de pronta entrega. Apesar das dificuldades econômicas vivenciadas no tempo presente pela indústria têxtil tradicional, nossa querida Brusque é uma importante referência para os catarinenses e brasileiros. “O que você tiver herdado de seus antepassados, conquiste-o novamente por si. Do contrário não será seu.” (Goethe)

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