Grazielle Guimarães*
Brusque é uma cidade que cresce a cada dia e vai deixando de ser totalmente habitada pelos descendentes dos antigos italianos, alemães, poloneses e mesmo portugueses/açorianos. O fato novo é a chegada em grande escala de baianos, paranaenses, paulistas, nordestinos de vários estados, entre outros, descendentes de diversas outras etnias.
Trata-se de uma nova Brusque. Uma cidade que vai aparecendo na sua paisagem humana novos rostos e cores, como os negros que falam menos tchê e mais oxe. Um município que vai tendo um pouco mais da alegria baiana e da simpatia paranaense.
Muitos que nasceram e se criaram aqui não vêem com bons olhos essa nova fase da cidade. Acham que os que chegam de outros estados estão tomando o lugar dos nativos de Brusque. Outros pensam que esta gente vêm para bagunçar a cidade, entre outras coisas. Há também aqueles que abraçam espiritualmente os novos migrantes, gostam da simpatia de muitos, da alegria e da espontaneidade. Posso dizer que ao longo do tempo que aqui estou, já presenciei os dois lados; Já tive que conviver com pessoas que não gostavam da presença destes novos migrantes e também com aqueles que gostam da gente e até expressam espontaneamente a sua opinião.
Como já havia dito no meu primeiro artigo publicado aqui no EM FOCO (Novo e velho rumo a liberdade), todos têm o seu direito individual de gostar ou não de uma determinada coisa, ou de um determinado povo. Não gostar de baianos por exemplo não é preconceito, é um direito de quem não gosta. O que é inaceitável é o preconceito. Quando ele começa a existir, quando há ofensa a pessoa humana, chingamentos ou discriminação, ai sim quem não gosta passa a ser preconceituoso. Mas não vamos entrar nesse assunto novamente!
O objetivo deste artigo é trazer a tona algumas interrogações. Elas podem ser respondidas por cada um, que certamente vai chegar a uma conclusão. Afinal, o que efetivamente muda na vida de alguém quem nasceu e cresceu aqui com a chegada dos migrantes? O que muda nos costumes da cidade, quando um novo grupo chega e trás consigo uma nova cultura? As diferenças de costumes é motivo suficientemente grande para que essas pessoas não se dêem bem? Afinal, alguém vai deixar de cultivar sua cultura, seus costumes, somente por que um grupo minoritário chegou a cidade com uma gama diferente de costumes? Não é possível convivermos pacificamente com este nosso próprio caldeirão cultural? São perguntas que gostaria que os leitores refletissem e claro, a medida do possível tirassem suas próprias conclusões.
Sobre estas perguntas tenho minhas convicções. Não sei se elas são as mais corretas, mas vale a pena explicitá-las, até para fomentar o debate.
Sei que não é fácil quando vamos conviver com uma pessoa que é totalmente diferente de nós, em especial no plano cultural. Algumas coisas não “batem”. Da nossa parte (os migrantes que como eu, viemos de fora) também temos muitas dificuldades, mais precisamente para entender por que as coisas por aqui são assim, do jeito que elas são. Do nosso ponto de vista, as vezes surge cada coisa esquisita, mas que para quem é de Brusque, trata-se de realidade aceita e própria deste povo.
É realmente difícil aceitar o outro e dar espaço em nossas vidas para ele. Mas acho muito importante aceitar quem é diferente de nós. Isso nos prova que não somos melhores do que ninguém, somos apenas pessoas diferentes. Estas diferenças nos fazem ver os nossos próprios defeitos, alguns que herdamos dos nossos próprios pais, avós, enfim da nossa criação em geral e que talvez nós podemos mudar e nos tornar pessoas melhores.
Muita gente acha que este choque cultural é prejudicial, mas será que estas pessoas já pararam para pensar o quanto podemos aprender conhecendo estas pessoas totalmente diferentes de nós? Quantos valores culturais estes dois lados podem trocar, interagir, conhecer, confraternizar? Já pensou quanta coisa interessante um brusquense nato de etnia alemã pode ensinar para um baiano nato de origem africana?
Posso afirmar por experiência própria, apesar de minha pouca idade, que este contato pode ser muito enriquecedor. Hoje sei o quanto é bom conhecer culturas diferentes, dentro do nosso próprio país. O Brasil é um país onde podemos viajar e conhecer novas pessoas e culturas diferentes, sem precisar sair dele. Tive o prazer de morar em três estados diferentes, com culturas totalmente diferentes e me tornei uma pessoa melhor, mais tolerante, mais aberta a opiniões e críticas construtivas, enfim uma pessoa muito diferente da que eu era quando sai da minha cidade natal lá na Bahia. E dou graças a Deus por isso.
Quero mandar um recado especialmente a aqueles que como eu vieram de fora e hoje residem nessa Brusque multicultural. Certamente você já ouviu dizer por ai que o pessoal de Brusque é preconceituoso, não gosta de migrantes, etc e tal. Eu também ouvi muito isso e a realidade, ao menos para mim, é outra. Por isso, antes de levar estes conceitos adiante, pense no que você está vendo aqui e agora. Veja que muitas vezes uma brincadeira, não é para ser interpretada como preconceito e sim uma forma de aproximação das pessoas. Se levar tudo a ferro e fogo, com certeza terá motivo para brigar e discutir. Assuma a sua identidade e brinque, ria, divirta-se, aceite novas amizades e procure nunca impor a sua própria cultura a outros. Assim, você mostra a eles que também gostaria de ver respeitada a sua cultura. Guarde em seu coração o que for bom para a sua vida, filtrando informações novas.
Aquelas coisas ruins, maldosas, provocativas, ignore-as ou se for o caso, deixe claro que você exige respeito humano, assim como você está respeitando o cidadão interlocutor. O principal disto tudo é a busca da felicidade. Por isso, vá aproveitar o que a vida esta te proporcionando de novo, de diferente!
A você que é nascido e criado na cidade e já ouviu falar que as pessoas que estão chegando em Brusque, vieram para bagunçar ou desorganizar, tenha um pouco de paciência com este povo, afinal, assim como você, eles vem para engrandecer a cidade com seu trabalho e com sua cultura. Ninguém chega aqui com objetivo explicito de bagunçar a vida de Brusque. Abra-se ao novo. Afinal, você já conversou com alguém dessa turma que veio de fora? Tem motivos para acreditar no que disseram sobre eles?
Estamos num momento muito rico de nossa cidade e tais embates entre os daqui e os de fora acontecem a cada momento, seja na escola, no trabalho, no barzinho, na diversão... Por isso, você que é brusquense nato, saiba que tem nossa admiração e nossa profunda gratidão por ter ajudado a construir uma cidade que agora precisa dos nossos braços e mentes para crescer ainda mais. Nós estamos aqui para somar. Conte conosco. Se houver algum embate cultural, seja um pouquinho mais paciente, pois talvez você esteja enganado sobre esse povo migrante. As vezes a gente só precisa de um pouquinho mais de tolerância. Estas pessoas que tem vindo para Brusque, salvo algumas exceções (pois nem sempre vem apenas gente honesta e trabalhadora, como em qualquer outra sociedade) não querem simplesmente fazer a sua vida e irem embora. Muito pelo contrário, a esmagadora maioria quer trabalhar muito, fazer a vida, trazer algo de bom e de bonito para Brusque. Mas para que isso aconteça com sucesso, estas pessoas precisam se sentir acolhidas.
Finalizo fazendo um convite a ambas as partes: vamos abrir nossa mente e o coração. Vamos ver o que cada um tem de bom para oferecer e assim podermos seguir juntos para um futuro melhor onde as diferenças venham a se completa. Essa Brusque do futuro só pode ser construída por todos nós juntos.
*A autora é estudante e funcionária pública municipal. E-mail: grazzy-12@hotmail.com
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